quarta-feira, março 15, 2006

No mínimo um hai kai

Preciso encontrar a cura
Pra essa insuportável
Autocensura

Mania de hai kais

Não tem desculpa
Quanto mais eu penso
Mais fico maluca.
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Posso viver sem você
Mas é mais divertido
Te conhecer.
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Não minto
Eu quero muito mais
Que o infinito.
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Uma grande pendência
Preciso conquistar
Minha independência.
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Quero ficar sozinha
Mas ninguém entende
Qual é a minha.

Capítulo Novo

O fim termina com ponto.
E cede espaço ao começo.
Ao novo que mora em mim.
Medo, passo incerto,
Vontade multiplicada.
Curiosidade.
Tudo indica que o momento é meu.

Chega de textos velhos!

A partir de agora, textos recentes.

Sobre ela - Pondo o dedo na ferida

Putinha! Não, isso não! Definitivamente não é uma putinha. Bem que ela gostaria, hum... às vezes, mas não. Pra isso não tem vocação. Santa? Nem comento! Mimada, isso sim. Egoísta, carente e completamente inconstante. Às vezes diz ser maluca, age como maluca. Mas o pé no chão e o medo deixam que ela fique sempre no mesmo lugar. Cagona, sempre!

Minha vida é “um” caos. Não, “o” caos. É mais forte, é ímpar. Talvez por isso eu perca tantas horas do meu dia pensando nela. E correndo atrás, jogando palavras que a façam vir atrás de mim. Faço biquinho, cara de choro, tudo por e-mail. E lá vem ela, com peninha do menino estúpido e apaixonado que ela pensa que sou. Centro do mundo, do meu mundo. Ou agora eu não estaria escrevendo sobre ela. Pretensiosa essa garota!

Mas até penso em outras coisas, tenho dias cheios. Labuta pesada com pausas por turno pra punhetas no banheiro, baladas, bebidas, festinhas e meninas gostosinhas que me transformam em um sujeito babão. Vadias, quando tiver um Porsche na minha garagem vocês vão brigar por mim.

Viram como não penso só nisso? Mas é sobre ela que vim falar, sobre aquela que chega cada dia de um jeito e sempre consegue manter estratégica distância. Já foi mulher séria e casada, menina indefesa, já recusou meus beijos alucinados, já me fez calar. Quem ela será?

O bom partido da cidade, a filha de fulano de tal, a bunda que me esnoba, mas já me viu gozar. Ela é assim, cada dia uma personagem, cada dia um sentimento. Mas sempre querendo me dar. Desculpas esfarrapadas, textos incoerentes, culpas abafadas com sumiço e saudade. E eu aqui querendo foder, comer, bater, qualquer coisa que satisfaça meu instinto e minha vontade de fazer ela ninar.

Ah, mas uma coisa eu garanto: um dia ela vai me pedir uma trepadinha e eu vou responder com um cafuné.

Esse senhor que é meu avô

Há pelo menos dez anos eu não falava com ele. Ouvia, às vezes, algumas notícias, com disfarçada indiferença. Eis que nesse último final de semana, num surto de loucura, uma vontade alucinada de viajar o mundo, decidi correr atrás da cidadania italiana.

Ignorei minha timidez, arranjei o número, meia hora pra tomar coragem na frente do telefone... e liguei para meu avô.

Sim, eu sou romântica. Tive que conter as lágrimas ao imaginar a vida italiana de meus antepassados a cada nova palavra do pacato senhor.

Não foi exatamente no momento em que eu desliguei, mas algum tempo depois que começou a bater a angústia.

Foi num pôr-do-sol do Leblon, véspera de Natal, que ele abdicou à função de pai. Sob olhares apavorados e choro desesperado de minha avó, ele fechou o vidro do carro e arrancou com a piranha, como se não importasse família, amor ou filhos.

Mais tarde, iria enfatizar o abandono, esquecendo literalmente o filho mais velho, que, por pena, amor ou sabe-se lá o motivo, escolheu a companhia do pai perante a família.

Ouvi muitas vezes essa história, mas nunca pude entender ou até mesmo acreditar no que me era contado. Mas foi depois de ouvir aquela voz perguntar, completamente indiferente, apenas por educação, sobre seu filho, é que senti o que é não ter um pai.

Eu, que tento ser tolerante, recusar tabus, fiquei realmente consternada com o egoísmo e individualismo daquele senhor. Tive raiva, ódio, vontade de xingar, berrar.

Mas apesar da sua enorme apatia, confesso que sinto uma vontade louca de ouvir o que ele tem pra dizer, de conhecer aquele sujeito que nunca dedicou um minuto da sua existência a pensar no buraco que deixou. O que faz um homem largar a família daquela maneira? O que faz uma pessoa assumir para o mundo que não tem o menor interesse sobre a vida de seus filhos?

Entendi tudo.

Filha única

Ela sobe. Está sozinha no palco, como gosta. Aliás... é difícil enxergar, mas alguém está segurando sua mão.

Não importa quem, mas nota-se a dedicação, a exclusividade, o jeito obsessivo.

Essa é sua arte: produzir obsessão, cativar a sombra, manter as mãos apertadas.

A mão de hoje é diferente da de ontem, e completamente distinta da de amanhã. E assim o jogo continua: gastou uma, ganha outra.

(Para quê se preocupar com o amanhã se a mesa do café já está posta?)

O monólogo segue. A farsa continua. Bocejos na platéia, rostos agoniados e alguns impressionados. Uma idéia jamais é unânime, por mais simples que seja.

O beijo secou, a luz apagou e o show chegou ao fim.

Não importa o que dizem por aí. A sombra roubou a cena. Pelo menos pra mim, que assisti ao espetáculo da cochia.

Casamento padrão, vida de glórias

Confusão armada, língua ligeira, palavras mal colocadas. A gente agride, sorri amarelo e sai, como se não houvesse amargo.

Ela não é comum, mas quer o circo. Um dia de glória em meio ao marasmo, talvez. Quem sabe na mente dela a vida seja isso mesmo: nada, pouco, merda nenhuma e uma noite de gala pra completar. Apenas um dia em que sai da sua mísera vida insignificante.

Vida odiosa, filho perfeito. Advogado, usa terno todo dia. Estuda, tem o carro que meu avô gostaria de ter, joga tênis (enquanto não existe campo de golfe por aqui, é lógico) e já marcou oculista pra sair bem na foto. Ah, e como não poderia deixar de ser, é alto e tem uma barriguinha sobressalente.

Tudo questão de fantasia. O surfista preguiçoso e esquecido está longe, finge não ouvir seu nome. Quer passar sem ser incomodado. Só.

As preparações começam cedo, um ano de antecedência será suficiente? Igreja, baile, músicos, decoração, flores, vestidos, fotógrafos, e, claro, comida e bebida à vontade. Fartura, esse é o lema.

A correria é pouca comparada aos gastos. Não tem problema, eles aceitam crediário.

No grande dia a noiva some (assim como seu noivo na noite anterior). Momentos de princesa: recebe massagem, banhos de creme, maquiagem e muito laquê no cabelo. Mas só o vestido vai disfarçar celulites e gorduras indesejadas.

Na igreja, ela chora. Sabe que o filho cumpre bem seu papel. Sorri, beija a noiva e é abençoado por Deus.

No baile, a alegria é geral. Mas num cantinho da sala, numa mesa ao fundo e no banheiro podemos notar grupinhos de convidados reclamando da bebida, “é do Paraguai”. Ou do buffet, “que vagabundo!”. E os mais atrevidos, da beleza da noiva, “hoje, até eu comeria”.

Ela vê copos quebrados, pisca, retorce os olhos, sabe que a despesa aumenta. Depois sorri, são os pais da noiva que mexem no bolso, não ela.

Logo o filho e sua esposa seguem para lua-de-mel, e em poucos dias retornam pro seu conjugado no Itacorubi.

Ela fecha os olhos, a noite foi perfeita. Definitivamente, é feliz.

Conflito interno - Essa não é a sua namorada

Superego, o que me aperta, me espreme. Esse ser que convive, apático, dentro de mim. Sentimentos vividos, espaço já ocupado, situações conhecidas. Ser santa, não mentir, não pensar. Buscar a perfeição, mesmo consciente de sua inexistência.

O id explode, quer brincar, quer rir e quer pisar. Não se importa, só quer se fazer ouvir, se fazer sentir e agir. Resolveu me ocupar.

E o ego se vê nessa luta, a disputa entre o bem e o mal, entre a sociedade e o indivíduo. Como saber até que ponto o gosto me é imposto? Conflito intenso, não sou a mesma. E tenho vontade de berrar, de pular, de deixar claro, de não vacilar. E machucar. E ferir.

Agora é uma certeza: ele não me conhece. E eu?

Desabafo - Vida e obra de um mentiroso compulsivo

Agora é minha vez! Já xinguei, analisei, gastei meu tempo falando nela. Mas preciso provar para mim e para o mundo que não sou só aquilo. Que tenho outros significados, outros problemas, que vou ser pai.

Sim, alguma coisa tem que mudar em mim. Ainda não surgiram cabelos brancos, ainda não cresceu barriga... Continuo esperando alguma transformação, um filho deveria me fazer homem.

Mas não, nada acontece. Sigo mentindo, sigo inventando histórias que fascinem, que (me) façam (ela) achar que sou alguém. Minutos que saio da minha insignificância. Quem sou eu sem esse mundo imaginário? Ela reclama, ela sabe, a gente briga. Mas adora fazer parte das minhas fantasias.

Aliás, me elogia, diz maravilhas, ressalta minha memória e meu sexo (sempre!), que só existem desse jeito na lembrança dela. Mas guarda em seu ar superior a consciência de que eu sou um ávido consumidor da cultura de massas. Um medíocre (na média), alguém que surgiu e se vai assim que a insegurança passar. E ela continua metidinha a culta. Discute, inventa teorias idiotas e levianas que a façam parecer maluca, só assiste filme B e não aceita a voz de Deus.

Sumo. Tô nem aí. Mas penso em dar um alô. Só pra testar, quem sabe... O que não faço por uma noite de sexo? Não espero muito, já passei a fase da ilusão. Devo admitir, já que por acaso hoje sou sincero: uns beijinhos talvez me sejam suficientes, meia hora de conversas loucas, cafuné no cabelo e resquícios de sexo em algum lugar público.

A falta de senso crítico é a grande vantagem dos canalhas. Eu gosto dela. Mas minto.