quinta-feira, junho 10, 2010

Uma Versão



Oito anos juntos e ele vira a cara pra ela desse jeito. Não, não é possível que seja aquele mesmo cara que mandava bilhetinhos dentro dos livros, que dividia as contas e a cama. Mas sim, é possível, ele entrou no restaurante, viu que Júlia estava ali e virou rápido o rosto pro outro lado. Entrou, serviu rápido a comida e foi se esconder num canto lá fora, onde não seria incomodado com a visão da ex e do atual marido. “Rodrigo, que horror, será que ele ficou sem jeito por tua causa? Nem um oi! Que absurdo!”

“Pois é, e você fala bastante nele. Eu bem que queria ser apresentado. Vamos ir junto quando ele for pagar no caixa?”

Era pra continuarem comendo, mas Júlia ficou sem fome naquele dia. Não que tivesse qualquer sentimento diferente de um carinho distante pelo ex, mas ser ignorada por uma pessoa com quem conviveu tanto tempo definitivamente não estava nos seus planos.
Por isso, juntou coragem e decidiu: “Digo, ele não vai ao caixa tão cedo. Vamos lá fora dar um oi?” “Ah, Jú, eu até forçaria de leve um encontro, mas ir até lá falar com ele... é demais pra mim. Mas vai lá, você fala bastante nele, se não for depois vai se arrepender. Vai, eu fico tranquilo”.

Júlia deu um beijinho gostoso no seu marido compreensivo. Como é bom ter alguém querido e maduro ao lado!

Pegou o corredor e caminhou até a última mesa do restaurante. Olhava para o ex, tentando algum sinal pra se aproximar. Ela teve que contornar a mesa, chegar do lado dele, tocar no ombro e dizer “oi”. Só então ele virou o rosto e retrucou “oi”, sem sequer esboçar um sorriso. Tinha visto fantasmas. Seu rosto estava branco, suas olheiras saltavam, os sinais de catatonia eram visíveis. Ela tentou mais: “você não ia me cumprimentar? Dá um abraço!” Ele levantou, abraçou com a ponta dos dedos, com a distância de umas duas cidades entre os dois. Ele virou para a direita e finalmente explicou onde estava o fantasma: “Essa é a minha mulher, Giovana”. Júlia foi simpática, tentou se apresentar, mas a mulher começou um diálogo bizarro que ninguém entendeu. “Já te conheço há muito tempo, tu sempre se mete na minha vida” “Como assim, eu sou casada, vim só dar um oi, nunca te vi”. Mas a mulher já tinha levantado, saído correndo, estava longe. E o cachorrinho atônito, claro, tinha ido atrás. Júlia pediu desculpas aos outros dois homens presentes na mesa, mas eles também não olharam pra ela.

Saiu dali com pressa, e nem precisou explicar a Rodrigo o que tinha acontecido. No estacionamento do restaurante se ouviam gritos, xingamentos e talvez até um tapa ou outro.

Desculpa, nossa, mil desculpas. Era só o que Júlia conseguia pensar. Não quero atrapalhar a vida de ninguém! Que vergonha, que mico, quero sumir.

Mas os sentimentos oscilavam. Mais tarde veio a raiva, vontade de escrever ao cretino. Seu corno de merda! Você é um incompetente, não sabe lidar com as mulheres, por isso nós cagamos em você.

Outra hora só chorava. Puxa vida, eu não fiz nada pra ele, e de repente ele não pode nem falar comigo... Eu não quero nada, to bem com meu maridinho, era só um olá, como vai, saber se ele tá bem. Ops, já sei, não, não tá.

Pensou também em escrever para a mulher. Explicar que não quer mais nada com ele, que tá muito bem casada, que entende o que é sentir ciúmes. Aliás, Júlia ficou tocada com isso: foi a primeira vez que não foi ela a ciumenta, que outra pessoa fez fantasias sobre ela. E fantasias tão infundadas... “Nossa, como a mente cria histórias”.

E é isso, a história está criada. Na verdade, várias delas. Em cada um dos personagens, uma história, uma vida, um repertório. Cada um contaria a seu modo, cada um entenderia do seu jeito. Com seus ciúmes, suas mágoas, sua curiosidade pelo ex da namorada ou simplesmente um carinho pelo ex. Essa é a versão de Júlia.

quinta-feira, maio 06, 2010

Medíocre



Ela jura que não é hipocondríaca. Além do anticoncepcional e do antidepressivo que toma todo dia, não sai de casa sem sua farmacinha básica. Remédio pra dor de cabeça, costas, gases, cólica, alergia, enjôo e um tarja preta pro caso de tristeza emergencial. Praticidade, nada mais.

Assim como as várias carteiras e nécessaires dentro da bolsa. Uma de pano só para cheques e cartões fidelidade (quantos!). Numa outra, toda lindinha, vai dinheiro, cartões de crédito e documentos. Moedas têm seu próprio compartimento, e por aí vai, muitas bolsinhas, tranqueiras mil. Tudo muito prático, muito organizado. Agora experimente pegar 10 pilas. Já sabe onde vai procurar primeiro?

Sua maior loucura é a estante com os livros. Vez por outra passa, olha, volta. Fica absurdamente indignada quando uma visita insensível entra na casa e ignora essa biblioteca tão linda e colorida, não comenta um livrinho sequer. Mas ok, entende que existem pessoas frias e sem coração. Como aquelas que não devolvem seus livros mais amados. Até hoje chora pelo seu livro preferido, “Quando me tornei Estúpido”, que foi e não voltou. E sorri contente sempre que um amigo assina com um comentário um livro seu que pegou emprestado, uma prática que inventou e segue como tradição milenar.

Anda pela casa e vê objetos que comprou nas viagens com o marido. Um telefone vermelho antigo, uma máquina lomográfica, um cofrinho bizarro. Lembra que ela sempre dá preferência para as coisas práticas, úteis, e ele quer o lado lúdico, a beleza. E foi numa dessas que decidiram comprar em Copenhagen uma cortina estilo anos 70 que lembrava muito a amada Berlim. O excesso de peso não foi problema. Quem traria um gato persa da Europa certamente não se incomodaria de trazer mais uma cortina, não é mesmo? E assim vieram, com um gato dopado, o único da família detentor do tão sonhado passaporte europeu, duas malas gigantes e duas mochilas bastante estufadas. Ainda despacharam umas duas malas pelo correio. Não é todo dia que se mora na Europa, e eles são bons nisso de aproveitar (e gastar) tudo o que podem.

Ela tem um carrinho prata que acha fofo e muito queridinho. Assim mesmo, coisa de mulherzinha. Mas a limpeza nunca está à altura destes elogios. Não que seja suja, que não ame ver seu carro limpinho e sem lixos espalhados pelo chão. Mas alguma mania idiota dessas que ela inventa a impede que passe numa lavação e faça o serviço rapidinho.

O iPhone já se incorporou à sua vida. Como trabalha fora de casa, precisa estar sempre atenta aos e-mails. Especialmente pra dar vazão à outra pequena mania: seu pavor, seu pânico, sua total aversão a falar no telefone. É assim, simplesmente congela, não sabe o que falar, não sabe o que decidir. Então responde rapidinho o e-mail e evita vários telefonemas. Topa pedir uma pizza, até aí tudo bem. Mas quando um amigo liga e pergunta o que está fazendo, pifa.

Seu computador é organizado do seu jeito, aquela coisa meio maluca estilo as bolsinhas dentro da bolsa. Tudo é muito controlado, muito arrumado, de um jeito próprio que só ela sabe conduzir. Assim consegue lidar com a grande bagunça interna, com tudo o que vai e volta, com tanta informação e pensamento, tantas manias e loucuras, tantos altos e baixos que vem e vão, tantas críticas a si mesma e a sensação de estar sempre sendo observada.

E o pior desses olhares, com certeza o mais rígido, como você pode notar, é o dela.

quarta-feira, julho 30, 2008

É neste domingo!

Roupas, objetos para casa, eletrodomésticos, eletrônicos e outras supresas:
Bazar VitiNina

terça-feira, julho 01, 2008

A Gata Borralheira

Nossa personagem chega na história com um cavalo branco. E ele a pé – porque é pertinho e não vale a pena gastar gasolina. De vestido rosa muito ornamentado, ela posiciona a mão esperando ajuda para descer do veículo. Ele não percebe, está arrumando a barra da calça jeans e já aproveita pra amarrar o allstar.

Ela, um ser independente, desce e começa um papo. Toma vinho, ri, olha nos olhos, demonstra interesse. Enquanto degusta uma cerveja, ele esconde a timidez em pequenos gestos de desafio, que não parecem funcionar. Ela prefere deixar pra próxima a quebrar o romantismo. Mulheres devem ser conquistadas, e não sair agarrando.

Alguns dias depois, novo encontro, e ela segue fazendo charme, pras bandas da Terra do Nunca. E ele continua com os pés muito firmes no chão do planeta Terra.

Ela sonha com declarações. Num jantar a luz de velas ou no Orkut, tanto faz, têm o mesmo peso. Ele se tranca no banheiro pra bater punheta e a dor de cabeça passar. Jura que este é o único e melhor remédio.

Brigam porque ela dorme demais, porque ela aperta a embalagem de detergente e porque ele não gosta de lingeries. É tudo o que incomoda ele, como se pode notar. Já ela fica triste com barreiras tão pequenas, que acabam não dando pra escalar.

O preço do petróleo sobe, a China ganha espaço no mundo. E só a indiferença arranca lágrimas dela.

A Branca de Neve começa a ficar de olho no príncipe da Rapunzel, trancafiada num quarto distante. O problema é que a essas alturas, ninguém mais acredita em conto de fadas.

Ele sai da história dirigindo um carro. E ela fica presa no livro com o Príncipe Encantado. Felizes para sempre.

quinta-feira, abril 24, 2008

Escritório vazio

De quinze em quinze minutos entra no orkut, bisbilha todos os e-mails. Esperando alguma notícia, qualquer coisa que possa mudar o dia, a vida. Nada. Mais quinze minutos e tá ali de novo. A franja continua muito curta pra usar pro lado, o namorado continua recebendo mensagens de menininhas bizarras e o salário não aumentou nem um tiquinho. Quinze minutos e bate o ponto. O embrulho no estômago permanece, o trabalho não satisfaz, a barriguinha não some. Hora de olhar mais uma vez. O antidepressivo não faz efeito, tem medo de ser barrada com passaporte na mão, se irrita com o papinho da colega pro namorado. Eles viajam juntos, ela viaja sozinha. Mais uma espiadinha. A amiga desperta fantasias, homens salivam, não consegue concentrar num livro, não quer ir pra Porto Alegre. Logon e senha, rapidinho. A pauta vazia, o café acelerando, o escritório vazio, a sensação de inutilidade. Lembra que não recebeu convite pro churrasco, que bateu o carro novo, que não suporta academia, que o saldo tá negativo. Entradinha básica. Relê os sentimentos que o cara com quem divide a cama divide com a internet. Pensa que nunca teve aquilo. Só a música que ele escreveu pra uma, que também tocou pra ela no violão. Hora de entrar de novo. As horas não passam, só os segundos. Ela teme perder. Tem medo de não ter, de não ser. Quinze minutos e, finalmente, uma novidade. O ex escreveu seu primeiro testimonial. E é óbvio que não foi pra ela.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Passou


quarta-feira, janeiro 30, 2008

Anônimo

Li e coube em mim:

Verdade
Não te quero metade
Mesmo que para isso
Me custe a vida inteira

quinta-feira, outubro 25, 2007

Viciei nos post secrets


She had diamons on the inside

I knew a girl
Her name was truth
She was a horrible liar.
She couldnt spend one day alone
But she couldn't be satisfied.
When you have everything,
You have everything to lose.
She made herself
A bed of nails
And shes plannin' on puttin' it to use.

(Ben Harper)

quarta-feira, outubro 24, 2007

Daqui ou de lá?


Post Secret


Post despretensioso e sem tratamento inspirado no queridíssimo http://postsecret.blogspot.com/



sexta-feira, outubro 19, 2007

Seqüência boba de haikais

Quero ir pra Marte
Sumir do mundo
Quando a nave parte?

Você diz que morreu
Mas com outra no meio
Impossível ser meu

Intimidade só a dois
Só entendi
Muito depois

O seu jeito me apavora
Penso que vem merda
Que não demora

Sei que é amor
E não nego
Vem com dor

Considero voltar atrás
Mas aquele sonho
Não existe mais

Quero começar de novo
Mas só com seu beijo
Eu me comovo

Tento conversa
É tanta loucura
Que dispersa

Não quero que mude
Só preciso
Que me ajude

Não sei o que vai ser
Sei que tô amando
Amando muito você.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Vitiada

Já não tô no comando.
Quanto mais tempo passa
Mais tô te amando.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Mulher-gata

Sou leve, sou livre, valorizo a felicidade.
Vou pra rua, sinto a vida,
E a beleza pelos ares.
Mas se tenho uma mania
É gostar de um cafuné.
Faço manha, me enrosco,
Meio gata, meio mulher.

quinta-feira, julho 26, 2007

Texto do meu pai - que também diz um pouco sobre mim

Quando eu tinha 15 anos
Era louco pra ter 18.

Eu tinha uma namorada no Leblon que não dava pra mim.
E tinha outra, em Laranjeiras, que não dava. Pra mim.

Eu ia de bicicleta de Copacabana ao Leblon
Em menos tempo que um adulto ia de carro.

Eu tinha um monte de amigos pobres,
Um monte de amigos pretos,
Um monte de amigas putas
E um monte de amigos ricos também.
Quando eu tinha 15 anos achava que tinha um monte de amigos.

Quando eu tinha 15 anos eu era da seleção de futebol do colégio
E colava em todas as provas de matemática.

Entrava no cinema sem pagar,
Entrava na boate sem pagar,
Andava de ônibus sem pagar.

Quando eu tinha 15 anos eu matava aula e ia pro Arpoador.
Fiz bem.
As aulas continuam iguaizinhas
e o Arpoador mudou tanto.

Quando eu tinha 15 anos
Quebrei o dente da frente brigando,
Tinha uma prateleira cheia de livros no quarto
E tinha mais medo da polícia que de ladrão.

Quando eu tinha 15 anos
Não tinha cabelo branco,
Não tinha dentes de siso,
Não tinha medos.

Quando eu tinha 15 anos
Eu não tinha saudades.

quinta-feira, maio 31, 2007

Sobre mim (mas qual outro texto meu não é?)

Tava procurando um guia do Rio de Janeiro e encontrei um de São Paulo. Não era bem o meu objetivo, mas a minha curiosidade às vezes acerta. Peguei o Manual do Paulistano Moderno e Descolado da estante e na primeira página soube que eu não ia escapar. “Se você nunca ouviu falar no Cansei de Ser Sexy, deve ter morado os dois últimos anos em Marte”. Assim como eu, o autor sabe do que se trata, mas não entende a razão pra tanto fervor em torno de uns jovens vestidos à moda européia. E o livro é todo assim. Solto, uma historinha despretensiosa, mas cheia de ironias sobre os pretensos descolados. E muito bem escrito.

O livro me fez rir. Gargalhar. E pensar, e pirar, e me investigar, como tudo o que me cai nas mãos ou surge na minha frente. Tudo é motivo pra questionar. Diferente do autor, eu não xingo. Mas não é pra me proteger, evitar brigas ou me tornar mais querida. É que eu não fujo. Se algo me incomoda, tem algo errado dentro de mim, e criticar não vai me fazer crescer.

Essa tal banda, essa ou aquela atitude, tudo me constrange. Essas referências não me tocam, eu não gosto de música punk, não entendo Uma Odisséia no Espaço e nem tenho o cabelo torto. Mas o que dói atrai. E pra curar, só investigando mais a fundo. É preciso admitir: incrivelmente, esses jovens moderninhos me tocam.

Não, eu não estou à vontade. Eu nunca estou à vontade. Como diria o meu psiquiatra, minha eterna sensação é de que estou numa festa sem ter sido convidada. Por isso as culpas, a sensação rotineira de ter dito algo errado.

Com adultos, com a geração do meus pais, eu passo horas discutindo. Lemos os mesmos livros, veneramos a psicanálise e rimos gostosamente dos diálogos e das neuroses do Woody Allen. Mas os anos de experiência evidenciam as nossas diferenças, é impossível negar.

É aí que eu percebo que tô no meio do caminho. Os jovens não me entendem, os adultos tampouco. Ou, melhor dizendo: eu não entendo os adultos, e muito menos os jovens.

É tão tentador pertencer a um grupo! Mas beijo na boca de mulher e um par de All Star não bastam. Criar rugas com literatura também é impossível.

O jeito é uma mudança interna. Algo precisa acontecer. Quem sabe daqui a três dias...

Não entendeu? Vá ler o livro.

terça-feira, maio 08, 2007

Amor com amor se paga

Olhou primeiro nos cantinhos. Tinha cara de injuriado. Perfeito para a experiência. Fingiu nem notar os peitos roçando em seu ombro. Inseguro na medida, achando a noite uma merda. Não seria capaz de conquistar uma bunda como essa, então segue no canto do balcão fingindo dançar.

Ela chega perto uma, duas, três vezes. Na última deixa cair uma nota. Agora que tem pretexto pra ouvir sua voz, toca nos ombros e devolve. Cem Reais, nota rara. Ela agradece, angelical, e já emenda algum assunto, talvez um episódio bobo na escola hoje.

Mas que atenção é essa só pra mim? E esse sorriso? A dúvida. Ela tá me gozando, só pode estar. Não, é gratidão. É claro, fui honesto e ela achou bacana. Daqui a pouco enche o saco e vai dançar.

Nem mais cinco minutos de conversa e a música chama. Aliás, é ela, com seu papinho de que essa música me lembra ótimos momentos, e esse lugar me traz sorte. Você já encontrou o seu grande amor? Sorriso lindo, jeitinho sapeca, tem covinhas. Dança gostoso, e bebe mais um pouquinho.

Olhos nos olhos, ele tem coragem como nunca imaginou. Chega junto, dança apertadinho, o calor da respiração ofegante dela na sua nuca. Testa com testa, já são namoradinhos. Não há dúvida: existe amor à primeira vista e entendo todos os clichês. Ela é minha, minha.

E quando ele já considera trocar alianças ela sopra no ouvido com delicadeza: trezentos Reais ou vou dar uma volta, querido. Incompreensão. Não ouviu bem. Respiração quente, pau pronto para o ataque, sangue estourando nas veias, mente a quilômetros de distância.

Como???

E ele se retira para o seu mundo marginal. Porque ele é de uma espécie em extinção, aqueles que acreditam no poder da conquista e não da conquista através do poder. Coitado, vai dormir sozinho. E ela parte pra outro, gostou da brincadeira.

sábado, abril 07, 2007

Vontade de nada

Vontade de não ser
o que tu quer que eu seja,
aquilo que esperam de mim
e de toda boa moça.

Vontade de não ser
e não doer
não ter culpas infundadas
e medo da perda.

Vontade de não ser
e virar ausência
ar, pó,
alimento de formigas.

Vontade de nada.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Palíndromo (ó Kei, consegui!)

Oi, Ramos, é só Mário.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Haikais

Escolhas
Gosto de tudo um pouco
Não sou mais só menina
E pode me chamar de louco.

Verdades
Me permito
Só não gosto
Quando eu minto.

Deveres
Um compromisso:
Fazer da vida
Bem mais que isso.

Amor

Com a cabeça no travesseiro
Viro pro lado
E ouço a tua respiração.
É linda!

Catacumbas (ou uma noite de insônia)

Tenho medo, que absurdo
de não poder voltar
o pavor é que o escuro
me prenda àquele lugar

Busco a saída
e passos constantes
contra-senso é nessa vida
precisar do meu amante.

Paciente

O pecado ainda existe. Católica eu não sou, e não há reza que dê jeito.

A masculinidade dele foi esmurrada, e o meu coração se feriu na briga. Uma dor que sai aos poucos, que reage ao analgésico e ignora a vacina.

As palavras saem. Doses homeopáticas, sintomas aliviados. Começo a me entender.

Já não preciso de UTI, falta só receber alta.

Tira essa lâmina do meu peito e me cura com palavras.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Ai bai bia

Foi por aí que aprendi que as coisas e pessoas precisam de rótulos. No mínimo, um “outros”. Estado civil? Outros. Sexo: outros. Não, com sexo não existe meio termo. Ou tu é ou não é. Ou gosta de comer ou de dar.

Mas eu toco na ferida. Sou o que desperta e incomoda. O que é gostoso de ver, mas absurdo ter por perto. Beijou mulher, é lésbica. “Mas pode sair da frente que eu quero ver, fazendo o favor?”

- Aquela pode, a minha não. Comigo tem que usar aliança. Beijinho na boca, cinema no domingo, histórico exemplar. Quero vestido branco e impurezas debaixo do tapete, para ela limpar quando eu estiver na reunião de diretoria em plena madrugada. (E a noite dela é útil, aproveita para fazer as unhas).

Enquanto isso eu choro. Enquanto isso eu saio bêbada, dou gargalhadas e falo o que bem entendo. Eu beijo com amor, eu sinto tesão, eu me permito.

Pois eu não só dou. Eu como. E bebo também.

terça-feira, junho 20, 2006

Intensamente

Não estou feliz com o cabelo. Hoje não é a roupa. Amanhã é o emprego. No dia seguinte, dor de cabeça. Sigo um dia insegura, outro mal humorada.

Assim é o medo de viver. Que descarado esse pavor de amar! Esse sentimento latente, que me envolve e leva pra longe, bem longe. Onde só minha imaginação alcança. E esse sujeitinho petulante me tranca no quarto e insiste por lágrimas. E elas vêm, fácil. Quero distância, quero terminar tudo. E nada de recomeço. Encaro de frente, de lado, e não vejo respostas.

Quero você. Mas quero em mim. Intensamente.

Papo sério

A:
Alguém me disse que eu devia relaxar. O futuro é inevitável, e eu sigo no caminho. Mas pelo contrário, estou apavorada. Amar de novo não é fácil.

O:
Ela me disse que devo mudar. Pra formar um casal é preciso insanidade, e eu não estou disposto a isso. Quero uma amiga, mas aceito cafuné. Quero economia, e por isso topo compartilhar. Quero segurança, e daqui eu não saio. Meu mundo eu que construí.

A:
Ele quer colo, mas mantém os olhos abertos. Eu sou confusa, mas quero fechar os meus.

O:
Que insistência! Aonde você quer chegar? Esse aqui sou eu, essa aí é você.

A:
Ok, foi mal. Melhor eu ir andando.

terça-feira, junho 13, 2006

Curiosa

Só a dúvida me inspira
E você me confunde.
Deixa o dito mudo
E isso me toca.
A sua coragem é a minha insegurança.
A sua indiferença, a minha sustentação.
Por isso,
Hoje eu sofro.

Foi mal

Enquanto eu sinto
Ignoro a realidade
Desconheço o que se passa em ti.

Sei que não sei
Reconheço que tenho medo.
Finjo que não dói.

Quero distância
Busco segredos
Que gostaria de ignorar

Me contradigo
Mas esse vestido
Não me serve mais.

Cidadão Quem

“Quem é você
Que se esconde
Atrás de um nome qualquer
Não aparece pra mim?”

Ele não te quer
Mas eu te quero
Te considero
E, infelizmente,
Sem te conhecer,
Eu te venero.

quarta-feira, abril 19, 2006

Só, e em boa companhia

(Mais um texto antigo, da época que eu escrevia no Funclube da Imaginarium)

Não tinha mais cara pra chegar sozinha nas festas da família e ser chamada de solteirona, então resolveu arranjar um acompanhante, um alguém. Agora jamais faltaria carona, poderia comparecer aos jantares de casaizinhos que as amigas combinavam, tinha alguém pra dividir o sofá nos domingos chuvosos...

- Querida, você me ama?
- Aaaaaai, já respondi isso na semana passada! Será que dava pra eu terminar a minha Caras em paz? Hum... esse vestido de casamento da Angélica é tudo!

As festas de família, antes engraçados encontros com tios e primos distantes, viraram um suplício. O babão passa a noite elogiando a mais chata das tias, e mesmo em casa ela não tem mais empolgação pra responder aos telefonemas do grude. Mas vai levando. É tão chato sair sozinha!

Janeiro, segunda, terça, quarta, fevereiro, quinta, sexta, agosto, sábado, domingo, novembro...

Sol lá fora, amigas na praia, gargalhadas e encontros inesperados acompanhados de falsidade, ressacas e bebuns desesperados por sexo. Guerrilha urbana. Invadir territórios e mostrar poder sobre as pessoas, várias. Uma pra cada noite, uma pra cada ocasião.

Ela em casa, com medo de enfrentar o bombardeio.

Foi numa noite chuvosa, um daqueles dias que poucos se animam pra sair. O telefone soa, mais alto que o ronco do namorado. As amigas são firmes: é hoje, não tem jeito. Ela retruca, já está de pijama, mas ouve a buzina lá fora e sente quem não tem pra onde fugir.

Coloca uma calça, desanima notando que não fecha. Coloca outra, desempolgada. Escolhe uma blusa, dá uma conferida no espelho. Depois da maquiagem sente que está linda, e que se danem as gordurinhas!

Gargalhadas, fofocas, histórias engraçadas... e um garoto maravilhoso. Beijos, amassos, risadas tímidas e uma ânsia alucinada por liberdade.

Madrugada chega em casa, toma banho e acorda sentindo beijinhos estalados. Finge que dorme, mas consegue abrir os olhos pra sussurar: "querido, te amo". E acorda pra mais uma festa de família.

Bocejo com ninices

No filme Waking Life, os personagens contam que a partir de um momento em que um problema é solucionado em um lugar, existe alguma “força” que faz com que essa informação seja assimilada em outros lugares, por diferentes pessoas. Um exemplo beeeeem tosco: lançam um desafio pela Internet, e muitos tentam resolver. A princípio, o jogo é mais difícil, mas na medida que mais pessoas conseguem resolver, ele se torna mais fácil para todos.

Da mesma forma, Jung criou o conceito de inconsciente coletivo, que é a herança psíquica que todo ser humano recebe em sua constituição. Esta herança é constituída por predisposições que condicionam o ato da percepção de símbolos e mais tarde, a estrutura afetiva e a estrutura do pensamento.

Tudo isso tem a ver com o Zeitgeist da época, o espírito intelectual de um momento, que exerce grande influência sobre as produções de determinados períodos. (Anota aí essa palavra, agora que você ouviu, pode ter certeza que vai notar em vários textos). A aceitação de uma idéia pode ser limitada pelo padrão dominante de pensamento de uma cultura, de uma região ou de uma época, mas uma idéia muito nova para ser aceita num período, pode ser entendida facilmente uma geração depois. Entendeu? Por isso, em um momento, a idéia de que a terra girava em torno do sol era considerada heresia, mas em outro momento ficou claro que era o correto.

E pra completar, tudo isso tem a ver com a teoria do caos: aquela famosa frase da borboleta bate asas na China e causa um furacão na América.

O que eu entendo de tudo isso é que tudo tem relação com tudo, e existe uma “força” agindo sobre a gente o tempo todo.

Tudo isso pra dizer que, sim, eu acredito que existe um “inconsciente” presente numa sala que faz duas pessoas bocejarem juntas sem saber.

quarta-feira, março 15, 2006

No mínimo um hai kai

Preciso encontrar a cura
Pra essa insuportável
Autocensura

Mania de hai kais

Não tem desculpa
Quanto mais eu penso
Mais fico maluca.
____________________

Posso viver sem você
Mas é mais divertido
Te conhecer.
____________________

Não minto
Eu quero muito mais
Que o infinito.
____________________

Uma grande pendência
Preciso conquistar
Minha independência.
____________________

Quero ficar sozinha
Mas ninguém entende
Qual é a minha.

Capítulo Novo

O fim termina com ponto.
E cede espaço ao começo.
Ao novo que mora em mim.
Medo, passo incerto,
Vontade multiplicada.
Curiosidade.
Tudo indica que o momento é meu.

Chega de textos velhos!

A partir de agora, textos recentes.

Sobre ela - Pondo o dedo na ferida

Putinha! Não, isso não! Definitivamente não é uma putinha. Bem que ela gostaria, hum... às vezes, mas não. Pra isso não tem vocação. Santa? Nem comento! Mimada, isso sim. Egoísta, carente e completamente inconstante. Às vezes diz ser maluca, age como maluca. Mas o pé no chão e o medo deixam que ela fique sempre no mesmo lugar. Cagona, sempre!

Minha vida é “um” caos. Não, “o” caos. É mais forte, é ímpar. Talvez por isso eu perca tantas horas do meu dia pensando nela. E correndo atrás, jogando palavras que a façam vir atrás de mim. Faço biquinho, cara de choro, tudo por e-mail. E lá vem ela, com peninha do menino estúpido e apaixonado que ela pensa que sou. Centro do mundo, do meu mundo. Ou agora eu não estaria escrevendo sobre ela. Pretensiosa essa garota!

Mas até penso em outras coisas, tenho dias cheios. Labuta pesada com pausas por turno pra punhetas no banheiro, baladas, bebidas, festinhas e meninas gostosinhas que me transformam em um sujeito babão. Vadias, quando tiver um Porsche na minha garagem vocês vão brigar por mim.

Viram como não penso só nisso? Mas é sobre ela que vim falar, sobre aquela que chega cada dia de um jeito e sempre consegue manter estratégica distância. Já foi mulher séria e casada, menina indefesa, já recusou meus beijos alucinados, já me fez calar. Quem ela será?

O bom partido da cidade, a filha de fulano de tal, a bunda que me esnoba, mas já me viu gozar. Ela é assim, cada dia uma personagem, cada dia um sentimento. Mas sempre querendo me dar. Desculpas esfarrapadas, textos incoerentes, culpas abafadas com sumiço e saudade. E eu aqui querendo foder, comer, bater, qualquer coisa que satisfaça meu instinto e minha vontade de fazer ela ninar.

Ah, mas uma coisa eu garanto: um dia ela vai me pedir uma trepadinha e eu vou responder com um cafuné.

Esse senhor que é meu avô

Há pelo menos dez anos eu não falava com ele. Ouvia, às vezes, algumas notícias, com disfarçada indiferença. Eis que nesse último final de semana, num surto de loucura, uma vontade alucinada de viajar o mundo, decidi correr atrás da cidadania italiana.

Ignorei minha timidez, arranjei o número, meia hora pra tomar coragem na frente do telefone... e liguei para meu avô.

Sim, eu sou romântica. Tive que conter as lágrimas ao imaginar a vida italiana de meus antepassados a cada nova palavra do pacato senhor.

Não foi exatamente no momento em que eu desliguei, mas algum tempo depois que começou a bater a angústia.

Foi num pôr-do-sol do Leblon, véspera de Natal, que ele abdicou à função de pai. Sob olhares apavorados e choro desesperado de minha avó, ele fechou o vidro do carro e arrancou com a piranha, como se não importasse família, amor ou filhos.

Mais tarde, iria enfatizar o abandono, esquecendo literalmente o filho mais velho, que, por pena, amor ou sabe-se lá o motivo, escolheu a companhia do pai perante a família.

Ouvi muitas vezes essa história, mas nunca pude entender ou até mesmo acreditar no que me era contado. Mas foi depois de ouvir aquela voz perguntar, completamente indiferente, apenas por educação, sobre seu filho, é que senti o que é não ter um pai.

Eu, que tento ser tolerante, recusar tabus, fiquei realmente consternada com o egoísmo e individualismo daquele senhor. Tive raiva, ódio, vontade de xingar, berrar.

Mas apesar da sua enorme apatia, confesso que sinto uma vontade louca de ouvir o que ele tem pra dizer, de conhecer aquele sujeito que nunca dedicou um minuto da sua existência a pensar no buraco que deixou. O que faz um homem largar a família daquela maneira? O que faz uma pessoa assumir para o mundo que não tem o menor interesse sobre a vida de seus filhos?

Entendi tudo.

Filha única

Ela sobe. Está sozinha no palco, como gosta. Aliás... é difícil enxergar, mas alguém está segurando sua mão.

Não importa quem, mas nota-se a dedicação, a exclusividade, o jeito obsessivo.

Essa é sua arte: produzir obsessão, cativar a sombra, manter as mãos apertadas.

A mão de hoje é diferente da de ontem, e completamente distinta da de amanhã. E assim o jogo continua: gastou uma, ganha outra.

(Para quê se preocupar com o amanhã se a mesa do café já está posta?)

O monólogo segue. A farsa continua. Bocejos na platéia, rostos agoniados e alguns impressionados. Uma idéia jamais é unânime, por mais simples que seja.

O beijo secou, a luz apagou e o show chegou ao fim.

Não importa o que dizem por aí. A sombra roubou a cena. Pelo menos pra mim, que assisti ao espetáculo da cochia.

Casamento padrão, vida de glórias

Confusão armada, língua ligeira, palavras mal colocadas. A gente agride, sorri amarelo e sai, como se não houvesse amargo.

Ela não é comum, mas quer o circo. Um dia de glória em meio ao marasmo, talvez. Quem sabe na mente dela a vida seja isso mesmo: nada, pouco, merda nenhuma e uma noite de gala pra completar. Apenas um dia em que sai da sua mísera vida insignificante.

Vida odiosa, filho perfeito. Advogado, usa terno todo dia. Estuda, tem o carro que meu avô gostaria de ter, joga tênis (enquanto não existe campo de golfe por aqui, é lógico) e já marcou oculista pra sair bem na foto. Ah, e como não poderia deixar de ser, é alto e tem uma barriguinha sobressalente.

Tudo questão de fantasia. O surfista preguiçoso e esquecido está longe, finge não ouvir seu nome. Quer passar sem ser incomodado. Só.

As preparações começam cedo, um ano de antecedência será suficiente? Igreja, baile, músicos, decoração, flores, vestidos, fotógrafos, e, claro, comida e bebida à vontade. Fartura, esse é o lema.

A correria é pouca comparada aos gastos. Não tem problema, eles aceitam crediário.

No grande dia a noiva some (assim como seu noivo na noite anterior). Momentos de princesa: recebe massagem, banhos de creme, maquiagem e muito laquê no cabelo. Mas só o vestido vai disfarçar celulites e gorduras indesejadas.

Na igreja, ela chora. Sabe que o filho cumpre bem seu papel. Sorri, beija a noiva e é abençoado por Deus.

No baile, a alegria é geral. Mas num cantinho da sala, numa mesa ao fundo e no banheiro podemos notar grupinhos de convidados reclamando da bebida, “é do Paraguai”. Ou do buffet, “que vagabundo!”. E os mais atrevidos, da beleza da noiva, “hoje, até eu comeria”.

Ela vê copos quebrados, pisca, retorce os olhos, sabe que a despesa aumenta. Depois sorri, são os pais da noiva que mexem no bolso, não ela.

Logo o filho e sua esposa seguem para lua-de-mel, e em poucos dias retornam pro seu conjugado no Itacorubi.

Ela fecha os olhos, a noite foi perfeita. Definitivamente, é feliz.

Conflito interno - Essa não é a sua namorada

Superego, o que me aperta, me espreme. Esse ser que convive, apático, dentro de mim. Sentimentos vividos, espaço já ocupado, situações conhecidas. Ser santa, não mentir, não pensar. Buscar a perfeição, mesmo consciente de sua inexistência.

O id explode, quer brincar, quer rir e quer pisar. Não se importa, só quer se fazer ouvir, se fazer sentir e agir. Resolveu me ocupar.

E o ego se vê nessa luta, a disputa entre o bem e o mal, entre a sociedade e o indivíduo. Como saber até que ponto o gosto me é imposto? Conflito intenso, não sou a mesma. E tenho vontade de berrar, de pular, de deixar claro, de não vacilar. E machucar. E ferir.

Agora é uma certeza: ele não me conhece. E eu?

Desabafo - Vida e obra de um mentiroso compulsivo

Agora é minha vez! Já xinguei, analisei, gastei meu tempo falando nela. Mas preciso provar para mim e para o mundo que não sou só aquilo. Que tenho outros significados, outros problemas, que vou ser pai.

Sim, alguma coisa tem que mudar em mim. Ainda não surgiram cabelos brancos, ainda não cresceu barriga... Continuo esperando alguma transformação, um filho deveria me fazer homem.

Mas não, nada acontece. Sigo mentindo, sigo inventando histórias que fascinem, que (me) façam (ela) achar que sou alguém. Minutos que saio da minha insignificância. Quem sou eu sem esse mundo imaginário? Ela reclama, ela sabe, a gente briga. Mas adora fazer parte das minhas fantasias.

Aliás, me elogia, diz maravilhas, ressalta minha memória e meu sexo (sempre!), que só existem desse jeito na lembrança dela. Mas guarda em seu ar superior a consciência de que eu sou um ávido consumidor da cultura de massas. Um medíocre (na média), alguém que surgiu e se vai assim que a insegurança passar. E ela continua metidinha a culta. Discute, inventa teorias idiotas e levianas que a façam parecer maluca, só assiste filme B e não aceita a voz de Deus.

Sumo. Tô nem aí. Mas penso em dar um alô. Só pra testar, quem sabe... O que não faço por uma noite de sexo? Não espero muito, já passei a fase da ilusão. Devo admitir, já que por acaso hoje sou sincero: uns beijinhos talvez me sejam suficientes, meia hora de conversas loucas, cafuné no cabelo e resquícios de sexo em algum lugar público.

A falta de senso crítico é a grande vantagem dos canalhas. Eu gosto dela. Mas minto.